11 de setembro de 2009

Dakar

Quando pousei em Dakar eu ria sozinha. Sabe aquele sorrizinho que a gente sente do lado de dentro, na boca do estômago? Respirava a maresia, reconhecia os bares e restaurantes, me sentia à vontade para circular na cidade grande depois de ter passado pelo Mali e Guiné Bissau.

Dakar significava conhecer muita gente interessante e, ao mesmo tempo, poder ficar sozinha (e eu já estava com saudade de ficar um pouco comigo mesma). Foram sete semanas intensas de trabalho: estive na Île de Gorée com as mulheres do Musée de la Femme, fiz oficina em parceria com a embaixada do Brasil na Maison Douta Seck – um centro cultural da prefeitura – que estava com uma programação para jovens durante as férias, passei dois dias com fellows da Ashoka e, para fechar, fiz um círculo de histórias no Centre de Bien Etre Imallah que dá cursos de yoga e massagem.

Muito trabalho, mas também shows quase todas as noites, caminhada na praia no final do dia e o passeio nos mercados. Há vários mercados na rua, os tecidos e o artesanato chamam atenção entre toda a variedade de produtos. Mas ir às compras é um exercício de retórica, cada olhar e cada palavra tem de ser muito bem pensados. Meu olhar desatentou e pronto: fui acompanhada por 3 quarteirões por um vendedor até convencê-lo de que a última coisa que eu compraria nesse momento seria um ferro de passar roupa. É melhor evitar também o “amanhã eu volto” ou “hoje estou sem dinheiro”, os senegaleses não desistem “amanhã que horas? Vou deixar reservado!” ou ainda o “deixa eu ver se você está sem dinheiro mesmo, me mostra a sua carteira”.

Apesar de não ter o clima de interior, Dakar mantém o costume das longas saudações como os malienses, mas com uma pitada de sonhos e preconceitos da cidade. Sendo branca, mulher e brasileira, aqui sou vitrine de mais significados do que realmente gostaria. As conversas correm menos curiosas e mais preconceituosas à princípio e eu tento esvaziar a vitrine para me preencher de outros significados. Abaixo algumas histórias que contam um pouco sobre o Senegal:

Sanoussi Diakite

Nabou Thiam

Adam Christiam

Bowel Mariame

Becaye Sy

Asi


Adja

Therèse

Salimata Deidhiou

7 de setembro de 2009

Sine Saloum


Taxi. 7 places. Mototáxi. Piroga. Charrete. 10 horas de viagem.

Cheguei finalmente na região do delta Sine Saloum, próxima à Gambia. Fiquei hospedada no acampamento Keur Bamboung, que existe desde 2004 e foi responsável pela criação da área de preservação em Bamboung. Quando começaram a assistir a volta dos peixes, ostras, aves e outros animais, criaram o acampamento.

Fazia tempo que estava à procura de um lugar preservado no Senegal, viajei bastante: Ngor, Saint Louis, Yoff, Ngaparu, Mbur, em todos os lugares havia muito plástico na paisagem. O Sine Saloum foi minha última tentativa, depois de ser obrigada a abortar uma viagem a Casamance onde recomeçaram as rebeliões do Movimento Separatista.

Durante viagem acompanhei o ramadan de quem estava comigo no carro, cheguei em Bamboung quando o sol se punha e quebrei o jejum com a equipe do acampamento. Um delícia! Cansaço da viagem, vento de chuva, conversa e café com pão. A hospedagem é simples: casa de palha e barro, comida caseira, energia solar e água de poço.

No dia seguinte, saída de caiaque na maré alta e caminhada pela maré baixa. No caminho, montes de conchas, resquícios do tempo em que a pesca, caça e extração de ostras e mariscos eram desregulamentadas. Esse ano pela primeira vez, irão permitir a pesca e a extração de ostras e mariscos, mas segundo Biram, que me acompanha no passeio, “eles ainda precisam pensar em como vão garantir que só levem os grandes”.

A volta é mais difícil. O plástico ganha proporção. Charrete. Piroga. Mototáxi. Carrapiche. plástico. 7 places. plástico. Táxi. plástico.