25 de agosto de 2009

Musée de la Femme

Annette D'Erneveille foi uma das primeiras pessoas que conheci em Dakar, assim que cheguei na cidade, almocei com toda a sua família. Almoço de domingo como os nossos, falamos de tudo e de nada: o Fesman que não vai mais acontecer esse ano, uma nova loja de roupas, as obras questionáveis do presidente e um costureiro ótimo que alguém descobriu. Eu tentava acompanhar o papo, metade em francês e metade em Wolof. Annette se destacava, com muito bom humor centralizava as conversas com comentários fortes e divertidos sobre cada assunto.

Contei a que vinha e ela me convidou para conhecer o Musée de la Femme, instituição fundada por ela há cerca de 15 anos na Ilha de Gorée, conhecida por ter sido porto de saída de escravos e escravas. O Museu, que fica em frente ao Maison des Esclaves, expõe as produções artesanais, culturais e econômicas da mulher senegalesa e mantém um atelier de costura. Apesar de ter apenas algumas salas e de ser bem menos visitado do que deveria, o Museu tem um valor inestimável por mostrar e valorizar o cotidiano da mulher senegalesa, que não é nada óbvio. Passei 4 dias na ilha, conversando com as mulheres que trabalham no Museu, ouvindo suas histórias, enquanto costuravam.

Maria Diatta

Adja Fatou Mbengue - La mort de mon père


Adja Ndeije Couma Tiue - Une Etape Embarrassante de ma vie


7 de agosto de 2009

Ilha de Canhambaque

O embarque e o desembarque ilustram a diferença entre a receptividade em Bissau e na ilha. No embarque, a piroga parte do porto de Bissau ao amanhecer, apesar da luz pedir fotos, foi só mostrar o aparelho que pessoal no porto ficou irritado e começou a gritar. Quatro horas na piroga e mais duas caminhando, desembarcamos na tabanca de An-humba, na ilha de Canhambaque. Lá havia dezenas de crianças para nos receber e elas pediam muitas, muitas fotos.

Ficamos acampados na área externa da casa de um padre italiano e usávamos a cozinha e o banheiro da casa. Os dias em An-humba foram intensos, enquanto nos acostumávamos à rotina da vida na ilha, dávamos conta das oficinas com as crianças na escola. A utilização da água exigia uma logística: tomar banho, com a mesma água dar o primeiro enxágüe na roupa suja, após o banho levar alguns baldes para cozinhar e lavar louça e, por fim, usar toda essa água suja para jogar na privada do padre.

Cada passo era fielmente assistido por um público assíduo - não perdiam um capítulo e tiravam fotos nossas tomando banho de baldinho (deviam achar ridículo!!).

À noite, as pessoas da tabanca sentavam do lado de fora das casas, ficávamos conversando e tomando vinho de caju. Foi numa dessas noites que apareceu uma iguaria inusitada para jantar: o joaquim doido - um rato que rouba tudo que encontra pela frente, mas acaba devolvendo por um pouco de aguardente. Não tive estômago para comer, dava para ver os dentinhos e as garrinhas do bichinho...

Numa dessas noites, papeando com os homens mais velhos da tabanca, fomos presenteados com uma festa. Oferecemos 20 kilos de arroz, uma cabra e litros de vinho de caju; eles trouxeram a música e a dança. Depois de passar a tarde na praia comendo ostras diretamente da pedra, voltamos para a tabanca e a festa estava pronta. Os homens apresentaram o cabaró, tipo de dança em que o homem que passa pelo fanado1 improvisa um canto sobre seu cotidiano com o acompanhamento de tantans. A percussão forte junto com o canto dos homens e do barulho dos sinos eram incríveis.

Para a festa, vieram pessoas de diferentes tabancas e a dança foi até tarde da noite. No dia seguinte, ressaca: noite clara, a lua cheia, sem vozes, dormimos ouvindo apenas o tambor da festa das defuntas2 e os animais.

1 O fanado é um rito de passagem da etnia bijagó e também de outras etnias de Guiné Bissau, trata-se de um momento de preparação para a vida adulta e para o casamento. Há o fanado masculino e feminino, na etnia bijagó só os homens fazem a circuncisão, mas diversos grupos em Guiné Bissau ainda praticam a mutilação feminina.

2 As defuntas são mulheres no momento em que encarnam ancestrais, sua festa também faz parte do fanado feminino.