
40% da população não votou. Tem gente que falou que foi por causa da chuva, outros falaram que foi de medo. Aqui vou dar a minha versão: foi de desânimo. Qualquer pessoa que tenha em torno de 45 anos pode contar sua versão de toda a história: a guerra de independência contra os portugueses, os 24 anos de ditadura e o entra e sai de presidente de 1999 a 2009. O cenário atual de Bissau é o mesmo do final da guerra civil em 1998: palácio presidencial bombardeado, assim como um grande número de casas. De lá para cá, nenhum presidente chegou ao final do seu mandato, todos foram retirados por golpe e o último, Nino Vieira, foi assassinado.
A mudança no cenário fica por conta de um novo palácio presidencial que está sendo construído – presente dos chineses – e a presença maciça de pessoas da ONU, observadores internacionais e jornalistas que criaram um mercado paralelo na cidade com restaurantes, bares e boates que são freqüentados apenas por esse público. O preconceito com relação aos brancos que começou no período colonial, é enfatizado com a vinda dessas pessoas que evidenciam a pobreza e a desigualdade social na capital. “Branco pelelê!!”, as crianças brincam. Quando é possível romper a barreira da cor da pele, Bissau é uma delícia, tem algo de familiar, talvez a língua e mais alguma coisa que não sei o que é... De qualquer forma é muito bom ouvir histórias em português e perceber o sentido do tom de voz e do silêncio.
Aqui a história de Haristino dos Santos Bionga, guineense que nasceu em 18 de maio de 1958, passou a infância com seu tio que trabalhava em Bafatá como policial para os portugueses no período colonial. Se revoltou contra os colonizadores e foi para Bissau colaborar com os guerrilheiros que lutavam pela independência.