24 de julho de 2009

Eleições em Guiné Bissau

Cheguei em Bissau no último vôo antes das fronteiras serem fechadas em função das eleições presidenciais antecipadas. “Eleições em Guiné Bissau acontecem sob clima de tensão” era frase permanente no roda pé da televisão do hotel, mas a cidade estava incrivelmente tranqüila: Os carros particulares estavam proibidos de circular, como não há transporte público, nas ruas apenas diplomatas, embaixadores, jornalistas e observadores internacionais, pois tinham permissão especial para transitar. Além disso, cidade sem energia elétrica na lei seca, fica bem escura.

40% da população não votou. Tem gente que falou que foi por causa da chuva, outros falaram que foi de medo. Aqui vou dar a minha versão: foi de desânimo. Qualquer pessoa que tenha em torno de 45 anos pode contar sua versão de toda a história: a guerra de independência contra os portugueses, os 24 anos de ditadura e o entra e sai de presidente de 1999 a 2009. O cenário atual de Bissau é o mesmo do final da guerra civil em 1998: palácio presidencial bombardeado, assim como um grande número de casas. De lá para cá, nenhum presidente chegou ao final do seu mandato, todos foram retirados por golpe e o último, Nino Vieira, foi assassinado.

A mudança no cenário fica por conta de um novo palácio presidencial que está sendo construído – presente dos chineses – e a presença maciça de pessoas da ONU, observadores internacionais e jornalistas que criaram um mercado paralelo na cidade com restaurantes, bares e boates que são freqüentados apenas por esse público. O preconceito com relação aos brancos que começou no período colonial, é enfatizado com a vinda dessas pessoas que evidenciam a pobreza e a desigualdade social na capital. “Branco pelelê!!”, as crianças brincam. Quando é possível romper a barreira da cor da pele, Bissau é uma delícia, tem algo de familiar, talvez a língua e mais alguma coisa que não sei o que é... De qualquer forma é muito bom ouvir histórias em português e perceber o sentido do tom de voz e do silêncio.

Aqui a história de Haristino dos Santos Bionga, guineense que nasceu em 18 de maio de 1958, passou a infância com seu tio que trabalhava em Bafatá como policial para os portugueses no período colonial. Se revoltou contra os colonizadores e foi para Bissau colaborar com os guerrilheiros que lutavam pela independência.

Um comentário:

Eduardo Barros disse...

Carolina,

Somente agora, depois que cheguei da minha viagem, consegui ter tempo pra viajar pelo seu blog. E eu estou fascinado pelos relatos da sua jornada africana. Já li todos os posts e pude me sentir um pouquinho dentro da sua aventura.

Vou continuar por aqui conhecendo novas pessoas e novos lugares. E sabendo também das suas novidades.

O trabalho está fantástico!

Beijos e boa sorte por aí.