5 de outubro de 2009

Djumbai de Histórias

Eu tinha certeza que voltaria para Guiné Bissau. Da última vez que estive no país, saí com a impressão de que ainda havia muito por conhecer. Dessa vez fiquei parte dos dias em Bolama, em um encontro de jovens, e outra parte em Bissau, na casa da Isabel, uma amiga que conheci na última visita.

Bolama foi capital do país até 1941 e faz parte do arquipélago de Bijagós. No cenário edifícios ingleses e portugueses do século XV: alfândega, palácio, hotel turístico, hospital, imprensa, escola de formação de professores - ocupados pelo mato. Os jovens vieram em busca dessa estrutura para se alojar e pensar sobre o país. Na verdade, reunir-se em Bolama é mais do que dar utilidade a uma série de construções, é dar sentido a uma ilha histórica, hoje vazia e incluir a pequena comunidade que é anfitriã do encontro nessa conversa. As oficinas acontecem junto da comunidade: sentados com as mulheres que vendem água e bolo, discutimos a importância e o conceito de associativismo. Enquanto os pescadores remendavam suas redes, conversamos sobre comportamento de grupo. E, por fim, os jovens todos se reuniram para uma conversa com o ancião de Bolama, ouvir seus conselhos para essa juventude que parece perceber o tamanho de sua responsabilidade. Não é a toa que o encontro anual foi de “Campo de Férias” para “Universidade Guineense de Juventude e Desenvolvimento”.

Foi nesse clima de responsabilidade que realizamos o círculo de histórias, ou Djumbai de Histórias, todos tinham muita certeza da necessidade de fazer suas histórias serem ouvidas pelos jovens do país irmão. Etiandro foi o primeiro, passou sua infância com a avó que não queria que ele freqüentasse a escola, insistiu e entrou na primeira série com 15 anos de idade. Carlos conta sobre os anos de guerra, a mudança para o interior, as dificuldades para comer e a perda dos pais. Filomena foi a terceira filha de uma família de mestiços, mas para sua cor a diferencia dos irmãos. Jucelino conta as dificuldades que viveu quando da separação de seus pais. Manuário contou sobre a morte de seu pai, piloto de avião, durante a guerra. Aissatu, finalmente, toma coragem: conta como sua experiência de abuso sexual levou-a a fundar uma associação de apoio a meninas.

Voltei de Bolama para Bissau, animada com as histórias e com a experiência. Fiquei na casa da Isabel e passávamos o dia todo na casa da sua avó Regina de 98 anos. Dias de histórias, acompanhadas de feijoada, cachupa, ostra e camarão.

2 comentários:

Pestelli disse...

Carol!!! fazia tempo q nao via seu blog!! amei as historias! vi que sua familia foi te visitar tb!! q maximo! nao preciso nem dizer q minhas fotos prediletas foram dos bichos, ne? e ai, ja sabe qdo volta? bjo e saudades
Pes

Unknown disse...

Carol querida,
Saudades.
Quantas histórias.
Bonito demais! Que bom ter o seu lado da história.
Um beijo grande,
Carla.