
A intimidade para escrever veio num domingo ensolarado. Acordei cedo e fui para a estação pegar um táxi (as nossas peruas) para Guguletu – uma das comunidades na periferia de Cape Town. Dentro do táxi, fui conversando com um menino de 16 anos, contava a ele o que estava fazendo, quando me perguntou quantos anos eu tinha. “Recentes 29 anos”. Ele reagiu como meu avô um pouco antes de eu viajar “você já não tem mais idade para isso, está na hora de sossegar”. Cai na gargalhada. Desci do táxi e fui encontrar o coletivo artístico Gugulective. Foram 10 pessoas participando do círculo: Babsi, Chuma, Andile, Alexis, Skura, Mzwanele, Lisa, Isaac e Madoda. Passamos o domingo conversando e compartilhando histórias. Guguletu, diferentemente do centro de Cape Town, é cheio aos domingos, muita gente na rua conversando em frente do açougue que vende espetinhos.
Dormi no caminho de volta. Acordei já na estação. Quando abri os olhos realmente vi Cape Town. A cidade estava nua: uma ventania insistia e já havia limpado das ruas os turistas, sem os passantes, percebi a grande cidade cenográfica.
No sábado seguinte estava de volta ao Guguletu: colocamos uma caixa de som com as histórias rolando dentro de um “fusca-instalação”. As pessoas entravam, escutavam as histórias, deixavam mensagens e do lado de fora ainda viam uma exposição de fotos. Sutil e bonito.
